Este blog é dedicado à minha fonte de inspiração - minha filha, Sarah Emanuelle.

domingo, 30 de setembro de 2012

Parto Humanizado



A humanização do parto não significa mais uma nova técnica ou mais conhecimento, mas, sim, o respeito à fisiologia do parto e à mulher.

Muitos hospitais e serviços médicos ignoram as regulamentações exigidas pela Organização Mundial de Saúde e Ministério da Saúde, seja por querer todo o controle da situação do parto, por conveniência dos hospitais em desocupar leitos mais rápido ou por comodidade de médicos e mulheres em que no mundo atual não se pode perder muito tempo.
Mas a ciência vem comprovando que o excesso de intervenções tecnológicas durante o parto pode não ser tão seguro em partos de baixo risco.
Já se provou que as parteiras são mais seguras que os médicos nos nascimentos de baixo risco, e que neste mesmo nascimento de baixo risco o parto domiciliar ou em Casas de Parto são tão seguros quanto os realizados nos hospitais e maternidades, com a vantagem de não realizarem tantas intervenções, pois o parto é mais natural.
O acompanhamento familiar deixa a parturiente mais tranqüila, tornando o parto mais seguro, ao constatar que a equipe especializada dos hospitais não consegue oferecer o suporte emocional que a parturiente necessita.
A posição deitada substituiu o parto vertical para melhor controle médico, mas a posição vertical é mais segura tanto para a mamãe quanto para o bebê, além de ser mais rápida. A presença do bebê junto à mãe após o parto é tão ou mais importante para o vínculo afetivo dos dois do que os exames realizados no bebê depois do parto e longe da mãe.
Mais do que após o parto, a presença do bebê junto à genitora no quarto é fundamental para o conhecimento de ambos, maior vínculo afetivo e amamentação prolongada. O leite artificial substituiu o leite materno e está provado que o aleitamento materno é superior nas suas qualidades.
Humanizar o parto é dar liberdade às escolhas da mulher, prestar um atendimento focado em suas necessidades, e não em crenças e mitos. O médico deve mostrar todas as opções que a mulher tem de escolha baseado na história do pré-natal e desenvolvimento fetal e acompanhar essas escolhas, intervindo o menos possível.
É a mulher que deve escolher onde ter o bebê, qual acompanhante quer ao seu lado na hora do trabalho de parto e no parto, liberdade de movimentação antes do parto e em que posição é melhor na hora do nascimento, direito de ser bem atendida e amamentar na primeira meia hora de vida do bebê. Para isso, é fundamental o pré-natal.
A dor é entendida como uma função fisiológica normal que pode ser aliviada com métodos não-farmacológicos amplamente embasados, mas não quer dizer que a mulher não tenha a escolha de optar pelo uso de analgesia.
Isso não significa que o parto cesárea ou com intervenção médica não possa ser humanizado. O parto cesárea existe para salvar vidas, mas não deve ser a grande maioria dos partos como acontece hoje e sim como em último caso. Isso também deveria acontecer com as intervenções médicas que somente devem ser aplicadas quando necessárias ou quando de escolha da mulher se bem orientada quanto a essas intervenções.
O Parto Humanizado significa direcionar toda atenção às necessidades da mulher e dar-lhe o controle da situação na hora do nascimento, mostrando as opções de escolha baseados na ciência e nos direitos que tem.

Bruno Rodrigues (Guia do Bebê)

Parto domiciliar – informe técnico


Hoje navegando e pesquisando encontrei este texto sobre parto domiciliar no blog da Lia, achei bem esclarecedor e trouxe para compartilhar.

Existe muita desinformação a respeito do parto domiciliar. Eu mesma sabia muito pouco sobre isso quando surgiu o interesse por outros locais de parto que não fossem o hospital. Minha primeira experiência de parto deixou muitas lacunas, e parte da frustração certamente deveu-se ao ambiente hospitalar: pressão para parir logo, intervenções, separação precoce, UTINeo. De alguma forma, eu desconfiava que se meu trabalho de parto tivesse sido conduzido de outra forma, minha primeira filha não teria precisado ficar em observação, longe de mim, por quase 24h.
Mesmo não gostando do hospital, não via muita alternativa. Pensava que parir em casa era coisa de princesas, que tinham mansão, criadagem, jacuzzi. Tipo a Gisele.
Até que conheci gente real que tinha parido em casa, em apartamentos pequenos, sem elevador. Em vez de jacuzzi, uma piscina infantil inflável. Gente como a gente. E fui lendo, me informando, conversando com mulheres e profissionais de saúde, até tomar minha decisão (batemos o martelo antes que eu engravidasse de Margarida).
Foi um crime premeditado.
Precisamos de muito tempo, Rafael e eu, para nos convencermos da segurança da nossa escolha. Por isso entendemos que muita gente ficaria chocada caso soubesse dessa decisão, então decidimos manter segredo da família até o nascimento. Não podíamos exigir que eles compreendessem em poucos meses o que levamos mais de um ano pra construir.
Depois que tudo aconteceu, fiz um levantamento das principais dúvidas e inseguranças que surgiram ao nosso redor e elaborei este “informe técnico”, com algumas informações essenciais sobre o parto domiciliar. O objetivo não é convencer ninguém a parir em casa; é apenas ajudar a esclarecer por que algumas mulheres seguem por esse caminho.
Por que parir em casa?
A nossa casa é o nosso território. Estamos familiares com seus espaços, seus cheiros, suas bactérias. Ali, ninguém vai nos chamar de “mãezinha”, ou nos obrigar a andar de cadeira de rodas. Ali, nosso bebê não vai ser levado de nós e receberá apenas os tratamentos que nós desejarmos.
Existem milhões de razões para parir em casa ou em outro lugar. Cada mulher achará as suas.
É seguro?
É tão seguro quanto um parto hospitalar de baixo risco, ou seja: bastante seguro.
Obviamente que estamos falando de partos domiciliares planejados, assistidos por profissionais qualificados, e não de partos desassistidos ou acompanhados por leigos.
O profissional que acompanhará o parto leva para a casa da parturiente equipamentos básicos de segurança. Além do aparelhinho para a ausculta intermitente do coração do bebê, ele traz balão de oxigênio e material para a aspiração das vias aéreas. Ele também domina técnicas de reanimação fetal.
Caso algo não esteja correndo bem, a parteira ou o médico que estiverem acompanhando o parto podem sugerir a transferência para o hospital. Essa transferência normalmente é indicada muito antes de a situação se tornar perigosa, de modo que haja tempo hábil para o transporte. Entre 10 e 15% dos partos planejados para ocorrerem em casa acabam acontecendo no hospital. Algumas transferências são feitas a pedido da parturiente, normalmente para receber analgesia ou quando ela está exausta.
Para quem ainda desconfia, existem estudos e artigos científicos apontando resultados iguais ou melhores para os partos domiciliares em relação aos partos hospitalares de baixo risco, considerando mortalidade e morbidade materna e neonatal, como este aqui. Recomendo também este artigo, do Dr. Marsden Wagner, epidemiologista perinatal que foi diretor de Saúde Materna e Infantil da OMS.
Quem acompanha um parto em casa?
Uma parteira, normalmente enfermeira obstetra, ou um médico. Em algumas cidades, não existem médicos que acompanhem partos domiciliares, pois há perseguição. Contudo, uma parteira com a formação adequada é perfeitamente capaz de acompanhar um parto normal de baixo risco com a maior segurança. Inclusive, os países que apresentam os melhores resultados maternos e neonatais do mundo (Japão, Holanda, Suécia) são aqueles onde os médicos atuam apenas em situações patológicas. Nesses locais, as gestações e os partos de baixo risco são confiados às parteiras (obstetrizes, as midwives).
Quem pode parir em casa?
Gestantes enquadradas como “baixo risco”. Um fator crucial para a segurança do parto domiciliar é a triagem das gestantes, feita a partir do pré-natal. Condições patológicas como pré-eclâmpsia, retardo no crescimento fetal e outras a serem avaliadas pelo médico e a parteira contraindicam o parto domiciliar.
E como é o pré-natal?
Caso a mulher tenha optado por parir com parteira, ela deverá ter um médico para solicitar os exames básicos (hemogramas, ecografias etc.). Mesmo assim, a parteira faz o seu pré-natal, com consultas mensais que vão se aproximando à medida que a gestação avança, até chegar a consultas semanais. Nesses encontros, ela mede a pressão e a altura uterina (a minha fazia até testes de urina), escuta o coração do bebê, avalia sua posição e conversa muito com a gestante.
O pré-natal com uma parteira é muito diferente do pré-natal com um médico, por mais humanizado que ele seja. Em primeiro lugar, porque ela vai à sua casa. Nada de deslocamentos e chá de cadeira no consultório. Depois, porque a parteira costuma estar muito mais disponível para conversas que fujam um pouco dos tradicionais temas relacionados à gestação. No meu caso, tive a oportunidade de falar tudo sobre meu primeiro parto, as experiências da minha família, minhas inseguranças, minhas expectativas.
Também fui acompanhada por uma GO maravilhosa, que topou ficar de sobreaviso caso eu precisasse ir ao hospital. Ela confiava tanto na minha parteira que eu cheguei a passar 5 semanas sem ir ao consultório no último trimestre da gestação, já que estava sendo acompanhada pela parteira.
Quanto custa parir em casa?
Varia muito. Os médicos que acompanham partos domiciliares costumam cobrar o mesmo valor que os médicos humanizados em geral – caro. Isso porque eles atendem poucas gestantes (3 ou 4 por mês, no máximo), gastam muito mais tempo em cada consulta que um médico de convênio (algumas consultas chegam a 2h) e acompanham partos normais, que acontecem quando querem acontecer e duram o tempo que tiverem de durar.
Com parteira, a coisa costuma ser bem mais acessível. Médicos são profissionais excessivamente caros para acompanharem eventos fisiológicos, daí eu achar que parteiras são de fato as profissionais mais adequadas para assistirem partos de baixo risco. Paguei no meu pré-natal inteiro, incluindo o parto e as visitas pós-parto (4 visitas), metade do valor que minha médica humanizada cobraria apenas para o parto.
Eu incluiria no orçamento a doula, fundamental pra gente segurar a onda sem anestesia. Mas as doulas cobram valores bem razoáveis e costumam ser flexíveis quanto às condições de pagamento.
O que é necessário para parir em casa?
Nem castelo, nem jacuzzi. Basta que você se sinta confortável na sua casa. Eu planejei usar a sala (minha sala é bastante espaçosa), mas a gente errou nos cálculos e não deu tempo de encher a piscina (uma piscina de 1,5m de diâmetro, emprestada pela doula). Assim, usei só meu chuveiro e minha cama (uma cama de casal tamanho padrão).
No finzinho da gestação, a parteira passa uma lista de itens que você deve providenciar pro parto: lençois, toalhas, panos de chão, plásticos para cobrir a cama etc. Todo o sangue das roupas saiu com a lavagem. O que não saiu foi o desenho que Emília fez no lençol com a caneta da parteira...
E os procedimentos com o recém-nascido?
A parteira é habilitada para administrar os primeiros cuidados neonatais. Se a mulher preferir, pode também chamar um pediatra.
Assim que o bebê nasce, a parteira verifica suas condições e a necessidade de procedimentos de aspiração ou reanimação. Ela tem a discrição de observar tudo isso com o bebê no colo da mãe.
Em seguida, o bebê é pesado e medido (minha parteira trouxe uma balança portátil e um colchão com aquecimento elétrico, pra o bebê se manter quentinho durante a medição) e são checados os reflexos. Ela também mede a temperatura do bebê e passa orientações sobre amamentação e outros cuidados.
A parteira também faz a coleta do sangue do cordão umbilical para a tipagem sanguínea. Ela traz o frasco com anticoagulante e depois é só levar no laboratório. Como eu tenho RH incompatível com o do meu marido, pedimos urgência no laboratório e no dia seguinte ao parto fui ao pronto socorro tomar a Rhogam (vacina anti-RH, que impede a imunização da mãe). Foi super tranquilo e rápido.
Você também pode solicitar à parteira a administração de vitamina K (oral ou injetável) ou colírio. Nós quisemos só a vitamina K oral.
Todos os procedimentos são conversados e discutidos no pré-natal, e a vontade dos pais é respeitada.
O parto domiciliar é a única forma possível de parto humanizado?
Não. O melhor lugar para parir é aquele onde a mulher se sente mais segura, mais confortável. Se a pessoa não gosta da própria casa, se tem medo (às vezes o medo aponta um caminho; às vezes a gente sente medo porque não é pra ser daquele jeito), se vê que as coisas não estão se encaixando, melhor procurar uma boa maternidade ou uma casa de parto. O importante é que a mulher esteja bem preparada e bem amparada.


Parto de cócoras

O que é o parto de cócoras?

O parto de cócoras ou também denominado de parto vertical, consiste na posição que a mulher pode adotar no momento do nascimento (período expulsivo), que acontece após completar os 10 cm da dilatação do colo uterino, e quando, a mulher sente vontade de fazer força para a expulsão do feto. Esta posição é bastante utilizada pelas índias e muito pouco ou nada pelas mulheres civilizadas. Por este motivo, existem duas formas de atenuar os possíveis inconvenientes da adoção desta posição. A primeira forma consiste em realizar a partir do terceiro mês de gestação, exercícios que fortificam os músculos dos membros inferiores, além da pratica da posição de cócoras durante os seis meses restantes da gestação. A segunda, consiste em utilizar cadeiras construídas especificamente para facilitar nestas mulheres a posição de cócoras (ver figura abaixo). No mercado, existem vários modelos desde os mais simples aos mais sofisticados, porém é necessário cuidado, pois existem cadeiras, no mercado, que pretendem facilitar esta posição e não o fazem.





Como é realizado?

Na realidade, neste tipo de parto devido à posição vertical o parto é realizado em forma espontânea (natural) com pouca ou nenhuma participação da pessoa responsável pelo atendimento que deverá ajudar o recém nascido a efetuar uma saída lenta (desprendimento) para evitar lesões (desgarros) do períneo da mãe e permitir aparar a criança de forma não traumática..

Este tipo de parto respeita os mecanismos íntimos, e o processo fisiológico da parturição, pode ser realizado em qualquer local, desde que se cumpram com os mínimos conceitos de limpeza e assepsia, pode ser realizado por pessoal competente que tenha experiência em relação ao parto, em gestantes de baixo risco, sempre cuidando de respeitar a vontade da mulher e tratando de não interceder no processo normal do parto. Como exemplo, não fazer corte na vagina (episiotomia), não estimular os puxos (força do expulsivo), permitir o contato precoce (imediatamente após o nascimento) do recém nascido com a mãe (pele a pele olho a olho), entre outras atitudes que torna ao nascimento mais humano (sendo esta uma das grandes vantagens deste tipo de nascimento).

Quais as vantagens para mãe e para o bebê?
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As principais vantagens são:


a) Para a mãe: O período expulsivo e de menor duração quando comparado a partos em outras posições (deitada ou ginecológica), menor dor no momento do expulsivo, maior satisfação após o parto (foi ela quem realiza o esforço), menor trauma perineal com melhor restituição após o parto, puerperio (período imediato após o parto) e amamentação mais precoce e efetiva;




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b) Para o feto e recém nascido: melhor estado de saúde avaliado por testes específicos (Teste de Apgar e medidas de gases na sangue dos vasos umbilicais).
Estas vantagens estão associadas aos seguintes fatores: ajuda natural da força da gravidade, aumento em mais de 28% da área do canal do parto o que permite ter para o feto um espaço mais folgado para nascer, melhor aproveitamento das forças de expulsão e menor pressão no canal do parto (vagina) . Melhor circulação sanguínea na região do útero e da placenta permitindo um desempenho maior tanto das contrações uterinas, como da saúde do feto. Todos estes fatores em forma individual são vantajosos tanto para a mãe como para o feto, quando estão somados as vantagens, são ainda maiores.

Quais os riscos para a mãe e para o bebê?


Não se tem encontrado riscos, tanto para a mãe como para o feto em mais de 2.000 partos realizados em nossa instituição, em gestações de baixo risco (sem patologias).
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Existe sim, um fator físico importante, já que a mãe deverá participar ativamente do parto tanto pela posição vertical (cócoras), como pelo esforço que deverá realizar após várias horas de trabalho de parto, às vezes sem dormir a noite anterior.


Nesse tipo de parto o pai da criança pode participar?

Neste tipo de parto, é de grande importância que a parturiente esteja acompanhada , seja pelo pai da criança como de um familiar , amiga ou mesmo de uma Doula (pessoa de confiança da grávida, especializada em acompanhar em forma física (carinhos, massagens) ou psíquica (palavras de alento e conforto), ou ambas.

Toda mulher está apta a ter seus filhos através do parto de cócoras?

Toda mulher que se prepara (fisicamente e psiquicamente) para o parto de cócoras esta apta para esse tipo de parto. Em nossa experiência ,70% das mulheres que nos procuraram conseguiram ter o parto nessa posição.As outras, tiveram um inconveniente médico como, criança muito grande, posição do feto inadequada (distósia), ou mesmo um sofrimento do feto de causa desconhecida o que nos obrigou a realizar a terminação do parto através de fórceps ou por cesárea. Tivemos, somente, 10% de casos em que as mulheres desistiram da posição por causa de dor intensa durante o período de dilatação. Estes casos, hoje, estão sendo minimizados pela utilização de uma anestesia especializada, denominada de baixas doses, o que permite colocar a mulher em posição de cócoras.


Existe uma preparação para o parto?

Em nosso grupo estamos utilizando em forma pioneira no mundo, os benefícios de um método denominado de “Resiliência” com excelentes resultados, e com 70% de casos bem sucedidos, como já foi colocado acima.


Existe algum tipo de anestesia?

Sim, existe uma anestesia desenvolvida em nossa maternidade para partos em posição de cócoras, aonde a mulher pode caminhar todo o tempo que tem essa anestesia, e posteriormente ter o parto em posição de cócoras. Essa anestesia utiliza o método da peridural (colocação de um cateter no espaço peridural), porém com a utilização de uma droga analgésica (fentanil ou similar) com uma dose muito reduzida de anestésico (bupivacaina), com grandes vantagens de obter um estado analgésico efetivo com preservação da atividade motora dos membros inferiores, situação impossível de obter com as anestesias peridurais convencionais que obriga a mulher que a utiliza, a adotar impreterivelmente a posição horizontal, e ou ginecológica (litotomía), no momento do parto, por falta de condições para estar de pé.

Hugo Sabatino é Médico Obstetra; Professor Adjunto do Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp; Coordenador do Grupo de Parto Alternativo desde o ano de 1980.

Fonte: Grupo Parto Alternativo

Seio empedrado… Obstrução, ingurgitação ou mastite?


Por Elena de Regoyos

Quem já amamentou ou amamenta pode ter se encontrado facilmente com um destes três problemas, ou até com mais de um deles. É algo que pode acontecer, que gera não poucos incômodos (em maior ou menor medida dependendo do grau e do que se trate) e que pode virar algo grave se não tomamos as medidas oportunas. 

É por isso que eu gostaria de fazer um breve repasso das diferenças entre estes problemas da amamentação e as causas, características e tratamentos de cada um deles, para cada mãe ter a capacidade de diferenciá-los e possa agir em conseqüência.

Espero que sirva para esclarecer estes conceitos. Em caso de qualquer dúvida ao respeito, podem ligar ou escrever para mim ou para qualquer outra/o consultor(a) de amamentação no qual vocês confiem.

OBSTRUÇÃO MAMÁRIA

Trata-se da obstrução de algum conduto mamário. Apresenta-se como um bulto duro e dolorido em alguma área localizada da mama. Não é o seio inteiro duro e dolorido. O mais habitual é que isso aconteça na área mais perto da axila, por ser a área onde o bebê esvazia pior o seio (sempre se esvazia mais a parte da mama onde fica a mandíbula inferior dele).

Posição "invertida"
Pode aparecer algo de febre, não superior de 38,5ºC. No caso da febre ser maior e o bulto estar quente e vermelho já estaríamos falando de mastite, e não de obstrução.

As causas da obstrução podem ser muitas, desde umafalta de drenagem do seio em áreas onde o bebê não esvazia bem o peito, até uma mudança nos hábitos das mamadas, como começar mamar menos vezes depois de uma época de muitas mamadas (às vezes acontece quando eles começam com a alimentação complementar, suprimindo mamadas em lugar de complementando-as).

tratamento seria: calor úmido na mama antes de cada massagem para drená-la, e depois pôr o bebê para mamar, preferivelmente colocando-o de tal forma que a mandíbula inferior dele fique na área afetada. Se esta é a parte de mama próxima à axila, colocaríamos o bebê na posição invertida (em lugar de ventre com ventre, seria ventre –dele- com costelas –nossas-, sentadas em um sofá e com o bebê apoiado em um travesseiro do lado do corpo onde esteja a mama afetada). A forma de massagear a mama seria com movimentos circulares pequenos, sempre desde a área externa da mama em direção ao mamilo. Podemos fazê-lo com os dedos ou com uma escova de dente limpa ou uma escova de cabelo de bebês.

Geralmente, após um dia ou dois com o bebê mamando na posição adequada à obstrução, e seguindo estas recomendações, esta acaba desaparecendo.

INGURGITAÇÃO

Trata-se de uma inflamação geral do peito (não de áreas localizadas), muito freqüente nos primeiros dias-semanas após o parto. Na primeira descida do leite (dos primeiros dias), como o nosso corpo não sabe quanto leite deve produzir para nutrir ao bebê recém nascido, a nossa natureza (que é sábia) produz mais leite do necessário para garantir uma nutrição mínima e depois já se adaptar à demanda exata do bebê, segundo o quanto ele mame (se mama muito produzira muito, se mama menos, produzirá menos, e assim sempre em consonância com as necessidades do bebê em cada momento).

Em essa primeira descida do leite, ao produzir muito, o leite fica retido nos condutos, o que leva a uma inflamação dos tecidos da mama e opeito fica inchado, duro e quente. Isso é uma ingurgitação. 

Não acontece apenas nos primeiros dias, mas é quando é mais comum, Porém, pode acontecer em qualquer momento da nossa vida de nutrizes, independentemente do tempo que levemos lactando aos nossos filhos (dias, meses e inclusive anos).

O melhor tratamento é pôr o bebê para mamar. Se a mama fica muito dura e esta difícil para o bebê pegar o peito (como uma bexiga muito inchada, dura, que escorrega na boquinha do bebê), é recomendável aplicar calor úmido antes da mamada (uma toalha ou pano molhados em água quente serve, e senão um banho quente) para dilatar os condutos e assim facilitar a saída do leite, massagear o seio com movimentos circulares e sempre em direção ao mamilo (dividindo o seio em porções como de pizza, iríamos massageando as diferentes porções) efazer uma leve ordenha até o seio ficar algo mais molinho para o bebê poder pegar em ele, pois às vezes estão tão grande e duro que a sua boca escorrega por ele impedindo fazer uma pega correta. 

Depois, entre mamada e mamada, ajuda colocar algo friopara diminuir a inflamação. Serve uma sacolinha de legumes congelados (dentro de um pano, nunca em contato direto com a nossa pele), ou até uma folha de couve bem limpa e fria da geladeira. Corta um círculo para o mamilo "sair" por ele, e coloca a folha de couve fria dentro do sutiã. Têm pessoas que descrevem um grande alívio.

MASTITE

Basicamente é uma complicação de algum dos problemas descritos anteriormente, principalmente da obstrução. O principal indicativo é a aparição de febre, e geralmente esta febre é alta e pode aparecer junto com tremedeiras e alta sensação de debilidade. Vêm também junto com dor corporal muito similar à de uma gripe, até o ponto de resultar comum a gente confundir uma mastite com uma gripe por estes sintomas (febre, mal estar e dor geral no corpo), mas teríamos o sintoma adicional de dor ou alta sensibilidade na(s) mama(s), e ausência de tosse. 

A mastite se produz quando há uma retenção do leite no seio: sepulamos uma das mamadas, quando a produção é maiorda que o bebê consegue dar conta (por ter mamado mais nos dias prévios estimulando um aumento de produção, por exemplo, que depois já não necessitava mais), quando estamos usando um sutiã pequeno e apertado que comprime uma parte da mama ou se o nosso bebê suga (estimula o peito), mas não consegue mamar adequadamente, e por tanto ele não esvazia adequadamente os condutos.

Não é sempre necessário tratar a mastite com antibióticos. Se é detectada precocemente é comum a gente conseguir controlá-la antes de que chegue a derivar em uma infecção.

Massagem da mama
tratamento consistiria em DESCANSO(fundamental) edrenagem da mama afetada. Para isso o melhor é o bebê sugando, mas se ele não quer mamar ou não é possível em esse momento, teremos que tirar o leite manualmente ou com bombinha, procurando manter a mama “mole”. Se for só em um seio o problema, é fundamental não nos esquecermos do outro, pois às vezes ficamos tentando que o bebê mame do que esta duro e dolorido para sará-lo, e com isso provocamos que o outro acabe igual. Então não deixemos que nenhum seio fique duro e inflamado. Se o bebê não da conta dos dois, façamos ordenha no outro, apenas o suficiente para aliviar o inchaço, mas nem tanto como para estimular mais ainda a produção.

Da mesma forma descrita na ingurgitação, podemos nos beneficiar do frio e do quente aplicados tal e como foi descrito anteriormente: calor úmido antes das mamadas ou da ordenha, e frio entre mamadas para diminuir a inflamação.

Também poderíamos tomar um analgésico ou antiinflamatório compatível com a amamentação (paracetamol ou ibuprofeno, por exemplo), o que alivia a dor, melhora a febre e desinflama a mama liberando os condutos. Mas lembremos que isso não sara, simplesmente alivia os sintomas. O que sara é descanso e drenagem do seio, e antibiótico (sempre receitado pelo médico) no caso de chegar a ter infecção.

Não só você pode continuar amamentando, senão que DEBE fazê-lo. Mesmo tendo febre muito alta, NUNCA deve se optar por um desmame durante uma mastite. Não há perigo do bebê “se infeccionar” a través do leite. Porém, às vezes acontece que o bebê rejeite esse leite por ficar algo salgado devido ao aumento de sódio no leite. Isso não é mau para o bebê, mas às vezes simplesmente eles não gostam, então teremos que fazer ordenha manual e oferecer o outro peito à criança.

Quando ir ao médico?

Se com estas dicas não temos melhorado em um prazo de 24-48 horas, é preciso ir ao médico para ele valorar a possibilidade de receitar um antibiótico compatível com a amamentação, e nem assim deve deixar de amamentar, é claro. Em este caso, é muito importante tomar o antibiótico tantos dias como o médico indicou, pois uma mastite mal sarada pode provocar que a infecção se reproduza e/ou aumente, acabando em um abscesso, o que seria muito sério e requereria uma intervenção cirúrgica para drenar o pus da mama. Mesmo assim, você pode e deve continuar amamentando, mas impedindo que o bebê entre em contato com esse pus, é claro: se o abscesso esta longe do mamilo, pode amamentar normalmente. Se esta perto dele, melhor amamentar só com o outro seio até sarar, mas ordenhe a outra mama para não acumular leite de novo.

Se você estava pensando em desmamar o filho, não há pior momento do que este para fazê-lo. É preferível primeiro sarar e, depois, já iniciar o desmame. Se não esvaziamos o seio com freqüência durante uma mastite, poderia acabar aparecendo um abscesso mamário. A retenção de leite no seio faz com que a febre aumente, pelo que é importante manter o peito “mole”. Se o bebê não chega esvaziá-lo, teríamos que acabar de fazê-lo mediante ordenha manual ou com bombinha. O leite nunca vai acabar, pelo que o objetivo não é “acabar” com ele, senão tirar tanto leite quanto seja necessário para que o peito não esteja duro, sem provocar um aumento de produção.

Se as mastites são repetitivas, seria importante fazer uma revisão médica para ter certeza de que não há algum outro problema, como uma infecção anterior mal tratada, uma descida de defesas ou problemas na sucção do bebê.

Elena de Regoyos
-Doula de puerpério e assessora parental 
-Consultora de slings e amamentação
www.mamaedoula.blogspot.com
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