Este blog é dedicado à minha fonte de inspiração - minha filha, Sarah Emanuelle.

domingo, 30 de setembro de 2012

Parto domiciliar – informe técnico


Hoje navegando e pesquisando encontrei este texto sobre parto domiciliar no blog da Lia, achei bem esclarecedor e trouxe para compartilhar.

Existe muita desinformação a respeito do parto domiciliar. Eu mesma sabia muito pouco sobre isso quando surgiu o interesse por outros locais de parto que não fossem o hospital. Minha primeira experiência de parto deixou muitas lacunas, e parte da frustração certamente deveu-se ao ambiente hospitalar: pressão para parir logo, intervenções, separação precoce, UTINeo. De alguma forma, eu desconfiava que se meu trabalho de parto tivesse sido conduzido de outra forma, minha primeira filha não teria precisado ficar em observação, longe de mim, por quase 24h.
Mesmo não gostando do hospital, não via muita alternativa. Pensava que parir em casa era coisa de princesas, que tinham mansão, criadagem, jacuzzi. Tipo a Gisele.
Até que conheci gente real que tinha parido em casa, em apartamentos pequenos, sem elevador. Em vez de jacuzzi, uma piscina infantil inflável. Gente como a gente. E fui lendo, me informando, conversando com mulheres e profissionais de saúde, até tomar minha decisão (batemos o martelo antes que eu engravidasse de Margarida).
Foi um crime premeditado.
Precisamos de muito tempo, Rafael e eu, para nos convencermos da segurança da nossa escolha. Por isso entendemos que muita gente ficaria chocada caso soubesse dessa decisão, então decidimos manter segredo da família até o nascimento. Não podíamos exigir que eles compreendessem em poucos meses o que levamos mais de um ano pra construir.
Depois que tudo aconteceu, fiz um levantamento das principais dúvidas e inseguranças que surgiram ao nosso redor e elaborei este “informe técnico”, com algumas informações essenciais sobre o parto domiciliar. O objetivo não é convencer ninguém a parir em casa; é apenas ajudar a esclarecer por que algumas mulheres seguem por esse caminho.
Por que parir em casa?
A nossa casa é o nosso território. Estamos familiares com seus espaços, seus cheiros, suas bactérias. Ali, ninguém vai nos chamar de “mãezinha”, ou nos obrigar a andar de cadeira de rodas. Ali, nosso bebê não vai ser levado de nós e receberá apenas os tratamentos que nós desejarmos.
Existem milhões de razões para parir em casa ou em outro lugar. Cada mulher achará as suas.
É seguro?
É tão seguro quanto um parto hospitalar de baixo risco, ou seja: bastante seguro.
Obviamente que estamos falando de partos domiciliares planejados, assistidos por profissionais qualificados, e não de partos desassistidos ou acompanhados por leigos.
O profissional que acompanhará o parto leva para a casa da parturiente equipamentos básicos de segurança. Além do aparelhinho para a ausculta intermitente do coração do bebê, ele traz balão de oxigênio e material para a aspiração das vias aéreas. Ele também domina técnicas de reanimação fetal.
Caso algo não esteja correndo bem, a parteira ou o médico que estiverem acompanhando o parto podem sugerir a transferência para o hospital. Essa transferência normalmente é indicada muito antes de a situação se tornar perigosa, de modo que haja tempo hábil para o transporte. Entre 10 e 15% dos partos planejados para ocorrerem em casa acabam acontecendo no hospital. Algumas transferências são feitas a pedido da parturiente, normalmente para receber analgesia ou quando ela está exausta.
Para quem ainda desconfia, existem estudos e artigos científicos apontando resultados iguais ou melhores para os partos domiciliares em relação aos partos hospitalares de baixo risco, considerando mortalidade e morbidade materna e neonatal, como este aqui. Recomendo também este artigo, do Dr. Marsden Wagner, epidemiologista perinatal que foi diretor de Saúde Materna e Infantil da OMS.
Quem acompanha um parto em casa?
Uma parteira, normalmente enfermeira obstetra, ou um médico. Em algumas cidades, não existem médicos que acompanhem partos domiciliares, pois há perseguição. Contudo, uma parteira com a formação adequada é perfeitamente capaz de acompanhar um parto normal de baixo risco com a maior segurança. Inclusive, os países que apresentam os melhores resultados maternos e neonatais do mundo (Japão, Holanda, Suécia) são aqueles onde os médicos atuam apenas em situações patológicas. Nesses locais, as gestações e os partos de baixo risco são confiados às parteiras (obstetrizes, as midwives).
Quem pode parir em casa?
Gestantes enquadradas como “baixo risco”. Um fator crucial para a segurança do parto domiciliar é a triagem das gestantes, feita a partir do pré-natal. Condições patológicas como pré-eclâmpsia, retardo no crescimento fetal e outras a serem avaliadas pelo médico e a parteira contraindicam o parto domiciliar.
E como é o pré-natal?
Caso a mulher tenha optado por parir com parteira, ela deverá ter um médico para solicitar os exames básicos (hemogramas, ecografias etc.). Mesmo assim, a parteira faz o seu pré-natal, com consultas mensais que vão se aproximando à medida que a gestação avança, até chegar a consultas semanais. Nesses encontros, ela mede a pressão e a altura uterina (a minha fazia até testes de urina), escuta o coração do bebê, avalia sua posição e conversa muito com a gestante.
O pré-natal com uma parteira é muito diferente do pré-natal com um médico, por mais humanizado que ele seja. Em primeiro lugar, porque ela vai à sua casa. Nada de deslocamentos e chá de cadeira no consultório. Depois, porque a parteira costuma estar muito mais disponível para conversas que fujam um pouco dos tradicionais temas relacionados à gestação. No meu caso, tive a oportunidade de falar tudo sobre meu primeiro parto, as experiências da minha família, minhas inseguranças, minhas expectativas.
Também fui acompanhada por uma GO maravilhosa, que topou ficar de sobreaviso caso eu precisasse ir ao hospital. Ela confiava tanto na minha parteira que eu cheguei a passar 5 semanas sem ir ao consultório no último trimestre da gestação, já que estava sendo acompanhada pela parteira.
Quanto custa parir em casa?
Varia muito. Os médicos que acompanham partos domiciliares costumam cobrar o mesmo valor que os médicos humanizados em geral – caro. Isso porque eles atendem poucas gestantes (3 ou 4 por mês, no máximo), gastam muito mais tempo em cada consulta que um médico de convênio (algumas consultas chegam a 2h) e acompanham partos normais, que acontecem quando querem acontecer e duram o tempo que tiverem de durar.
Com parteira, a coisa costuma ser bem mais acessível. Médicos são profissionais excessivamente caros para acompanharem eventos fisiológicos, daí eu achar que parteiras são de fato as profissionais mais adequadas para assistirem partos de baixo risco. Paguei no meu pré-natal inteiro, incluindo o parto e as visitas pós-parto (4 visitas), metade do valor que minha médica humanizada cobraria apenas para o parto.
Eu incluiria no orçamento a doula, fundamental pra gente segurar a onda sem anestesia. Mas as doulas cobram valores bem razoáveis e costumam ser flexíveis quanto às condições de pagamento.
O que é necessário para parir em casa?
Nem castelo, nem jacuzzi. Basta que você se sinta confortável na sua casa. Eu planejei usar a sala (minha sala é bastante espaçosa), mas a gente errou nos cálculos e não deu tempo de encher a piscina (uma piscina de 1,5m de diâmetro, emprestada pela doula). Assim, usei só meu chuveiro e minha cama (uma cama de casal tamanho padrão).
No finzinho da gestação, a parteira passa uma lista de itens que você deve providenciar pro parto: lençois, toalhas, panos de chão, plásticos para cobrir a cama etc. Todo o sangue das roupas saiu com a lavagem. O que não saiu foi o desenho que Emília fez no lençol com a caneta da parteira...
E os procedimentos com o recém-nascido?
A parteira é habilitada para administrar os primeiros cuidados neonatais. Se a mulher preferir, pode também chamar um pediatra.
Assim que o bebê nasce, a parteira verifica suas condições e a necessidade de procedimentos de aspiração ou reanimação. Ela tem a discrição de observar tudo isso com o bebê no colo da mãe.
Em seguida, o bebê é pesado e medido (minha parteira trouxe uma balança portátil e um colchão com aquecimento elétrico, pra o bebê se manter quentinho durante a medição) e são checados os reflexos. Ela também mede a temperatura do bebê e passa orientações sobre amamentação e outros cuidados.
A parteira também faz a coleta do sangue do cordão umbilical para a tipagem sanguínea. Ela traz o frasco com anticoagulante e depois é só levar no laboratório. Como eu tenho RH incompatível com o do meu marido, pedimos urgência no laboratório e no dia seguinte ao parto fui ao pronto socorro tomar a Rhogam (vacina anti-RH, que impede a imunização da mãe). Foi super tranquilo e rápido.
Você também pode solicitar à parteira a administração de vitamina K (oral ou injetável) ou colírio. Nós quisemos só a vitamina K oral.
Todos os procedimentos são conversados e discutidos no pré-natal, e a vontade dos pais é respeitada.
O parto domiciliar é a única forma possível de parto humanizado?
Não. O melhor lugar para parir é aquele onde a mulher se sente mais segura, mais confortável. Se a pessoa não gosta da própria casa, se tem medo (às vezes o medo aponta um caminho; às vezes a gente sente medo porque não é pra ser daquele jeito), se vê que as coisas não estão se encaixando, melhor procurar uma boa maternidade ou uma casa de parto. O importante é que a mulher esteja bem preparada e bem amparada.


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