Este blog é dedicado à minha fonte de inspiração - minha filha, Sarah Emanuelle.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Como se preparar para uma cesárea

mg
Se você está nesta casa, certamente tem alguma afinidade com parto natural. Nem imagino que queira fazer uma cesárea eletiva (com hora marcada). Apesar de dizerem que é mais segura (tanto que muitas obstetras se submetem a esse procedimento), a cirurgia de extração fetal hoje faz com que o Brasil não consiga cair com o vergonhoso índice de mortalidade materna e neonatal. Hoje a cesárea mata mais que a falta de pré-natal ou má assistência ao parto. Infecção e a chamada prematuridade iatrogência (bebês prematuros por conta da cesárea) matam milhares de mães e bebês de todo o Brasil.
Se você se preparou ou está se preparando para um parto natural será que deve se preparar para a cesárea?
Eu acredito que NÃO. Você deve escolher uma equipe em que confie e saiba que só irão sugerir uma cesariana caso realmente haja necessidade. Essa decisão será comunicada e decidida por você (porque parto humanizado não é musiquinha, luz baixa, silêncio. É protagonismo, é dar voz para a mulher e suas vontades).
Ninguém que deseja um parto natural está preparado para uma cesárea. Não dá para se preparar. Seria o mesmo que casar e se preparar para o divórcio; seria o mesmo ao nascer, pensar na morte daquela criança.
Você tem 15% de chances de precisar de uma cesárea. Precisar é algo que a gente não questiona muito: pode me cortar e salvar meu filho. A cesárea é uma rendição para a qual não há preparação anterior possível.
Chorar a cesárea é chorar pelo não parto. As pessoas dizem: mas você tem uma filha viva e saudável. A mulher está feliz com a criança nos braços, viva, saudável, mas não deixa de chorar pelo parto perdido, pelo processo não vivido. Esse luto é necessário para a tomada de consciência sobre si mesma.
Não estamos aqui para demonizar a cesárea. O problema nunca foi a cesárea e sim como hoje ela é feita, sem necessidade, enganando mulheres que acreditam ter salvado seus filhos, por falsa crença médica de segurança da cirurgia e interesses econômicos. O problema não é a faca(cesárea), nem o queijo (a mulher). É a fome (modelo obstétrico, capitalismo).
Não é possível se preparar para cesárea. Apenas chorar e se reerguer na certeza de que foi necessária. A cirurgia é a planta cortada no inverno para florescer na primavera.
Eu acredito sim que a gente tem que lutar para conseguir um parto humanizado. Infelizmente é uma luta: temos que ter forte valores internos para manifestar os valores externos, valorizar o nascimento tanto quanto se valoriza uma festa de casamento, um quarto maravilho de bebê, desembolsando alguns mil reais ou buscando alternativas que aumentam as balas da arma da Roleta Russa do Parto que pode levar a uma cesárea(escolher um profissional não humanizado, 5 balas, hospital não humanizado 1 bala, sem doula 1 bala – e só resta um buraco sem bala na arma).
Mas o que acontece é que mesmo quem esvaziou quase todas as balas da roleta russa, resta uma bala, da cesárea necessária (ou se preferir bem indicada). A dúvida que fica é: quando é o momento de saber que a natureza realmente falhou e que devemos deixar nos cortar na primavera para ver a vida florescer? Não existe resposta certa. Não existe verdade absoluta. Inevitavelmente vamos lidar com os limites da criança que mostra sinais de sofrimento, da equipe que nos atendeu, nossos próprios limites. E quando esse limite chega é a hora certa.
Podemos investigar posteriormente, mas não é possível se preparar, antes para essa possibilidade. Podemos em um próximo parto tentar entender as perguntas que gritam na calada da noite, buscar respostas, redesenhar caminhos.
Mas diante do acontecimento devemos acolher e deliciarmo-nos diante da cria viva e gorducha que mama nos nossos seios e chorar pelo ventre cortado.
Não podemos julgar o passado com os olhos do presente. Muito menos tentar planejar o que não pode dar certo para nos poupar da dor de quem desejou, planejou e não conseguiu.
O vivido serve de referência para que possamos buscar outros caminhos. Mas diante do acontecido recente, o fundamental é deixar de se debater no sentimento de incompetência, reverenciar toda a luta e agradecer pela vida que vive nos braços. Se preparar para uma cesárea é como casar e achar que vai se separar: certamente você não escolheu adequadamente! Quem deseja um parto natural se prepara para ele, escolhe uma equipe habituada com este parto, um local propício. E ao longo do processo, havendo necessidade, se abre para a possibilidade de intervenções.
Se você está planejando um parto, planeje e jogue toda sua energia no parto. Se ele não acontecer que encontre braços e acolhimento para você chorar sua dor e redesenhar sua história.
Se você viveu uma cesárea na hora certa, quando a ferida não mais latejar pode ser o momento de recomeçar a luta e buscar viver uma nova experiência, lembrando que cada parto é único. A via de parto é importante mas não faz de ninguém melhor ou pior mãe. A tristeza do parto não tem relação com a felicidade de ter um filho, assim como a vida de parto não chancela uma melhor maternagem. Não é o destino que faz a diferença, mas o caminho e como se caminha, com quem se caminha, tanto dentro como fora de nós.

Por Kalu Brum
Fonte: Mamíferas

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